segunda-feira, 21 de julho de 2014

Vendo pano de prato


Outro dia, almoçando em um restaurante em Pinheiros num sábado a tarde bastante ensolarado, resolvemos, justamente por causa do bom tempo, sentar em uma das mesas ao lado de fora. Tinha apenas uma pequena divisão de plantas separando o espaço em que estávamos da calçada.

Entre a movimentação do Metri, manobristas e a chegada dos clientes, eis que observo um menino de treze ou catorze anos abordando um casal de clientes. Ele, vestindo uma camiseta,  bermuda e chinelo, segurava uma caixa que não se via com clareza  o que continha dos poucos metros de distância em que estávamos.

Ainda observando aquela cena, vi o casal acenando negativamente com a cabeça. Não tinha conseguido vender.

O menino, muito astuto, não se deu por vencido e logo, sem a permissão do Metri para estar ali , veio nos abordar. O “anfitrião” do restaurante logo se aproximou da nossa mesa com um olhar receoso na expectativa de que pedíssemos para que o garoto nos deixasse em paz.

A abordagem foi rápida e o garoto falou: “ Boa tarde, vocês querem comprar pano de prato? 8 reais cada um”.

Na sequência, eu respondi: “ Eu acho que o valor desse pano de prato está inflacionado.”

E ele muito esperto, responde olhando para nós e para o Metri: “ Esse pano de prato é 100% algodão. Bordado. Eu não posso vender por menos. “

E, olhando para o Metri, continuou: “ Se o Sr. vende um prato aqui por R$100,00, vai vender por R$10,00 se te pedirem? Eu posso fazer 2 por R$15,00.”

Pensou por segundos e continuou: “ Ah, não, me desculpe! Eu posso fazer 3 por R$20,00.”

E no final, ele ganhou a venda. Levamos  três panos de prato.

Enquanto pagávamos, eu perguntei: “ Quem te mandou vender os panos de prato?” A resposta: “ Ninguém. Eu ajudo minha mãe. Meu pai trabalha como segurança e nunca está em casa.”

Eu de novo: “ Você está estudando?”

Ele: “ Estou na oitava série. Não sou bom em português, mas muito bom em matemática!”

Para mim, o que fica é a vontade de acreditar que o Brasil tem jeito. Que as pessoas tem jeito. Esse garoto, se tiver a oportunidade , seguramente vai longe.  Ele tem jeito. Vamos  incentivá-lo de forma correta.

O conceito de etiqueta social do qual estamos falando nesse espaço, vai além do bom comportamento perante à sociedade. É o bom tom de atitudes transformadoras.

Você cidadão, o que acha de não dar esmola nos faróis? Não dar dinheiro quando te estendem a mão pedindo, simplesmente porque é mais fácil? E ao invés disso,  o que acha de incentivar as oportunidades de trabalho? O esforço versus a  recompensa. O apoio e auxilio ao próximo através de instituições sem fins lucrativos?

Fazer o Brasil ser um país melhor, com pessoas melhores e que almejam por coisas maiores.

Pedir e ficar  esperando, não dá.

Se revoltar e destruir as coisas porque deixou de receber algum benefício, também não dá.

Acreditar que se pode ganhar dinheiro de forma fácil, não dá. Tem que trabalhar.



Está na hora de seguirmos o exemplo desse garoto, determinado a vencer, que ajuda a família, mas não deixou os estudos e que mesmo escolhendo vender pano de prato ao invés de brincar com os amigos no meio da tarde, como qualquer criança na idade dele faria, não perdeu o sorriso no rosto. O rosto da esperança.  O rosto de quem merece uma chance e um futuro melhor.

Gentileza gera gentileza


Quantas frases assim você já viu em algum lugar? E a prática?

Esperando o farol abrir, dentro do carro, observei um grupo de pessoas abordando quem estava parado ali.

Logo chegou a minha vez e eu ,bastante desconfiada, me dispus a escutar.

Me explicaram que estavam ali distribuindo corações feitos por crianças de todas as idades e, enquanto escutava, logo pensei: “ um coração em troca de dinheiro”. Situação que estamos muito habituados a ver.

Para minha surpresa, não foi nada disso. A pessoa pediu que eu escolhesse um coração, me desejou um ótimo dia e disse que não queria nada. Apenas que eu tivesse um excelente dia.

Eu abri um enorme sorriso e senti que aquele gesto me fez sentir bem. Me deixou feliz.

O objetivo foi alcançado!


Que gentileza!!!